Nada é do nada!

Volante Digital Culture
4 min readAug 17, 2023

Utilize as referências ao seu favor para ter um novo ponto de partida.

por Jordan Martins

Diretor de Criação da Volante (e designer de moda nas horas vagas também!)

Quem trabalha com criação já passou pela situação de ter medo de usar referências porque pode parecer cópia. E por outro lado, de se considerar impostor e ficar desapontado quando não consegue encontrar uma solução única.

Mas por que isso acontece? Quais as cobranças e travas que nos impuseram e que nos obrigam ser “originais”? Isso vem da infância, do “não imita o amiguinho!”? Isso vem da escola, do “não olhem para o lado”? Isso vem da faculdade, do medo do plágio? Não sei quais são as respostas para essas perguntas, mas podemos pensar juntos.

Sim, eu roubei as ideias do mais clichezão de todos. No livro Roube como um artista, o autor Austin Kleon nos diz: “Se estivermos livres do fardo de ser completamente originais, podemos parar de tentar construir algo do nada e abraçar a influência ao invés de fugirmos dela.”

Dá uma olhadinha na sua volta, nada é original! Esse texto não é o primeiro sobre esse assunto. Essa tela que você está lendo não é a primeira tela inventada pelo homem. A mesa que o computador está apoiado não é a primeira mesa do mundo. A estampa da sua roupa tem inspiração em algo. Pois é, hoje em dia é praticamente impossível criar algo do zero. Não te parece que tudo já foi feito? E quando Austin fala no livro sobre “roubar ideias”, ele diz justamente isso: é inevitável roubar ideias dos outros, mas é importante diferenciar esse roubo de cópia.

Todas as coisas que criamos é um conjunto de roubos alheios, ou seja, referências que pegamos do mundo. E dessas referências acabamos montando algo que é nosso. É assim que alimentamos nossa criatividade, com referências diversas, com o olhar sobre as coisas para criar algo nosso. Algo que é seu. Isso é diferente de cópia, entende?

Ter consciência que a principal fonte de ideias são outras ideias torna o processo criativo muito mais prático e direcionado. Não é necessário reinventar a roda a cada novo projeto, mas utilizar as referências ao seu favor para ter um novo ponto de partida. Por exemplo, o primeiro avião foi inspirado no voo dos pássaros, o segundo avião no primeiro e por aí vai. E o legal no roubo de ideias é reconhecer as referências como um recurso importante não apenas como inspiração mas otimização do tempo, é um passo importante para avançar no processo criativo.

“Mas Jordan, onde eu busco as minhas referências?” Mais importante do que saber ONDE buscar é saber O QUE buscar. Um passo simples é não perder o foco. Seja direto, não dê muitas voltas. Buscar referências também não é reinventar a roda. Joga no Google! Certeza que tu vai encontrar muita referência, era assim quando a internet engatinhava e dava certo.

Outro exercício muito legal que o livro nos indica é procurar as inspirações de quem nos inspira. Aprenda mais sobre as pessoas que você curte o trabalho delas, onde elas buscam referências e aí fica mais fácil de construir também as suas referências. Garanto que esse pequeno passo já vai ajudar muito.

Criatividade é, portanto, sobre criar, mas também sobre olhar ao nosso redor e nos inspirar, roubar. Te convido a deixar de lado todas as travas que sempre te impuseram e te orientaram a caminhos que por muitas vezes não tem magia, diversão e encantamento. Respeite seu processo e te joga sem medo. E acima de tudo, experimente novas tendências, estudos e métodos. Boa criação!

Referência:

Kleon, Austin. Roube como um artista. Rio de Janeiro: Rocco, 2013. thoreau, Henry. Walden. São Paulo: Aquariana, 2007.

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