6 livros para ler e se orgulhar

por Júlia de Lima e Piero Vicenzi

É bastante comum encontrarmos histórias de personagens LGBTQIAPN+ retratados de forma caricata e humorística, ou enquadrados pelo viés epidêmico da AIDS na década de 1980. Geralmente, são homens gays e afeminados. Essas histórias foram importantíssimas para um ganho de visibilidade da comunidade. No entanto, essa “sopa de letrinhas” do acrônimo compreende também outras vivências e demandas de gênero e sexualidade, cada vez mais retratadas em séries, filmes e livros.

Selecionamos 6 livros com histórias diversas de personagens LGBTQIAPN+, em diferentes enquadramentos, para ler e se orgulhar sempre! Boas leituras.

1Devassos no paraíso, de João Silvério Trevisan

Para quem tem interesse em conhecer toda a história da sexualidade dita “desviante” no Brasil, João Silvério Trevisan documenta nesta obra. Publicado originalmente na década de 1980, o livro já tem quatro reedições, com novos capítulos que compreendem também as conquistas e direitos alcançados no século XXI.

O mais incrível desse livro é poder entender como as sexualidades se desenvolveram no país, desde o período da invasão portuguesa, e como fomos moldados aos ideais eurocêntricos. O conteúdo aborda diferentes áreas do conhecimento e expressões da cultura brasileira, cinema, arte, teatro, literatura, direito, medicina, psicologia, história e política, por exemplo.

É, quase literalmente, uma “bíblia” LGBTQIAPN+ brasileira.

2 Odara, de Márcio Paschoal

Nesse romance, acompanhamos a vida de Odara, uma travesti carioca. A trama se desenvolve através de uma costura de relatos narrados por Odara, contrapostos com as versões dos personagens que a cercam. É uma leitura cheia de nuances, leve e divertida, que nos faz questionar para além da vivência travesti no Brasil, marcada por múltiplas violências, a condição humana — nossos anseios, ilusões e amores.

3 Sobre a terra somos belos por um instante, de Ocean Vuong

Esse livro-carta contém as palavras de um filho escritas para sua mãe, que não sabe ler. Ao contar a história da sua família, que começou muito antes dele nascer, o narrador expõe partes desconhecidas de sua vida para a mãe. O retrato autobiográfico explora temas como raça, classe e masculinidade no contexto norte-americano sob o viés de uma família de imigrantes vietnamitas.

O desabafo se constrói permeado de angústia e compaixão, que se entrelaçam na relação de mãe solteira e filho. É uma busca pela cura dos traumas familiares e uma tentativa de contar a sua própria história, de romper os silêncios que gritam dentro das paredes das relações familiares.

4 O essencial de Perigosas Sapatas da Alison Bechdel

Se The L Word fosse uma HQ seria essa aqui…

O essencial de Perigosas Sapatas é uma coletânea dos melhores quadrinhos que foram publicados entre os anos de 1987–2008 pela Alison Bechdel, eles contam a história de um grupo de amigas, em sua maioria lésbicas, sobrevivendo aos desgovernos dos Estados Unidos e as suas próprias escolhas de vida.

Quando eu digo que tem muito de L Word, falo também da comunidade lésbica como um todo né? As experiências se repetem muito (eita como são previsíveis) tornando muitas das ansiedades das personagens reais, como se a gente tivesse vivendo o mesmo que elas.

É muito legal acompanhar as histórias desses personagens por pouco mais de 20 anos de publicações, vendo dramas familiares, crescimento e muito rebuceteio, é pra se sentir visitando as amigas depois de anos sem vê-las.

5 Parque das Irmãs Magníficas da Camila Sosa Villada

“O Parque das Irmãs Magníficas” é um retrato autobiográfico da autora Camila Sosa Villada sobre os seus anos se prostituindo com outras travestis no Parque Sarmiento em Córdoba, na Argentina.

A história gira em torno das prostitutas do parque e da infância da Camila, mas eu não diria que ela é a personagem principal, outra personagem que ganha o palco nas páginas é a dona da pensão onde ela vive por um tempo, a Tia Encarna que é como uma mãe para todas as outras travestis. Os personagens são inesperados, cativantes e muitos, a forma como ela conta suas histórias me lembrou muito da Isabel Allende que conta a história do protagonista através dos coadjuvantes. O realismo mágico e o fluxo de pensamento estão muito presentes e com isso a autora cria uma atmosfera mágica contando as experiências dela que nos prende muito!

Esse não é um livro fácil, por conta das variadas cenas de agressão física e psicológica presentes em quase todas as páginas, é doloroso de ler.

“Estou preparada para viver assim. Sou capaz de andar a sós. Foram elas que me ensinaram a sobreviver.”

6 Garota, mulher, outras da Bernardine Evaristo

A narrativa nos leva a conhecer a história de mulheres e pessoas não-binárias em um fluxo de tempo que salta entre presente e passado, além disso quase todas as personagens carregam muita representatividade em si.

Esses contos nos levam a conhecer tantas histórias diversas com tantos enredos, e principalmente, a cereja do bolo é ver essas narrativas se encontrando, afinal todos os contos do livro estão interligados. É muito interessante ver a percepção de cada personagem sobre um outro depois de ter lido o conto dos próprios e entender as motivações por trás daquela personalidade.

Essa indicação é pra quem sente falta de uma história LGBTQIAP+ onde o tópico da descoberta não é o tema central, nele temos somente pessoas vivendo a vida sendo parte da comunidade — ou não e com pessoas muito diversas e em sua maioria pretas.